You Can't Hide Your Love Forever - Fonoteca Municipal do Porto

Fonoteca Municipal do PortoFMP

You Can't Hide Your Love Forever

Armando Sousa

Resenha

29 Outubro 2020

O disco de estreia dos Orange Juice foi post-punk mas também foi pop
Abrir um álbum com uma música que os fãs conhecem e reconhecem bem é jogar pelo seguro. Sim e não. Porque a brilhante Falling and Laughing com que começa o disco de estreia dos escoceses Orange Juice, não é bem bem a mesma que eles tinham gravado com a Postcard uns anos antes, quando partilhavam catálogo com os Josef K. Aqui, a limpeza é tal, que nem parece que a banda tinha andado durante anos submergida nas garagens do post-punk.

Diferenças de sonoridade à parte, para encontrar um bom resumo do sumo espremido com a passagem à Polydor, é deixar-se levar pelo que dita a agulha no lado A, até Tender Object, onde a exponencial esquizofrenia dançável acaba com uns teclados que fazem lembrar o supersticioso Stevie. Depois, arpeggios, sopros e estes versos: “When You Talk So Realistically/The Thrill of Love is Gone for Me”. Ora, esta Dying Man podia perfeitamente estar uns anos lá mais à frente num Queen is Dead qualquer, por exemplo. Mas não, está aqui e a ordem dos acontecimentos leva-nos a uma versão do sucesso de Al Green de 1975, L-O-V-E Love, onde a voz de Edwyn Collins veste na perfeição o novo-romantismo vigente.

James Kirk e Edwyn Collins. Os dois são os compositores dos temas originais e, apesar de o primeiro também cantar, é a voz de Collins que imprime personalidade aos Orange Juice. No lado B são apreciáveis as diferenças e os dotes de composição e canto de cada um. Depois de um início à medida do sentimentalismo hipster ouvido nos anteriores 20 minutos, Three Cheers for Our Side, composta por James Kirk é rock’n roll, é indie, é pop, é reco-reco.

A este álbum de estreia dos escoceses só faltou a merecida receção e aclamação como um dos melhores discos de pop dos anos 80, que é. E nem o pesado fardo da história musical, com os seus periódicos revivalismos, tem podido fazer muita justiça à poética de Collins e Kirk.

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