13 Fevereiro 2025
O inicio do século XX é marcado pela extrema popularidade dos discos de 10", especialmente a partir de 1910 onde os chamados discos de goma-laca de 78 rpm foram o principal formato de gravação. Embora possuíssem uma qualidade de gravação relativamente fraca comparado com os LPs que os sucederam, eram discos acessíveis que permitiram disseminar com facilidade as canções populares da altura, tornando-se uma parte crucial no desenvolvimento da indústria fonográfica da altura.
No entanto, as capas não eram tão valorizadas quanto as gravações. As capas eram, numa fase inicial, genéricas: papel ou cartão sem qualquer arte gráfica ou informações detalhadas. Foi em 1939 que Alex Steinweiss, diretor artístico da editora Columbia Records, se tornou pioneiro na prática de criar capas mais elaboradas, com uma nova linguagem visual. Acentuou-se a ilustração manual através de técnicas como a serigrafia, litografia e colagem assim como uma sempre presente paleta de cores inspirada nas correntes artísticas da época, nomeadamente o modernismo e o cubismo. O seu formato muitas vezes permitia que estes fossem armazenados em “álbuns de discos” ou arquivos, em que a capa genérica era deitada fora.
Os discos cujas capas, ainda assim, já possuíam algum valor estético, dificilmente se conseguiram manter até aos dias de hoje devido aos novos formatos que chegariam no pós-guerra e à fragilidade do material de impressão.
Trajar o passado é sobre explorar o potencial da reedição destas capas deterioradas e perdidas. Todo o processo de apropriação das suas sonoridades e da recriação das suas capas, não se ocupa apenas em restaurar uma função perdida, mas propor uma nova leitura gráfica. Um processo que toma como ponto de partida a fragmentação da memória visual e sonora. Reimaginar a imagética de um universo sonoro passado através de uma lente atual, um discurso que sublinha as fronteiras entre arquivo, resgate e inovação.