Tim Buckley - Fonoteca Municipal do Porto

Fonoteca Municipal do PortoFMP

Tim Buckley

Armando Sousa

Resenha

22 Outubro 2021

Era a pedalar entre o trânsito de Bell Gardens que Tim Buckley se sentia confortável a explorar os inescrutáveis limites da sua voz. Nos alicerces desta cantoria em cima da bicicleta e das tentativas de emular os saxofones e trompetes da coleção de discos de jazz da sua mãe, Buckley construiu aquilo que era uma raridade no universo da música pop: uma voz com um registo de cinco oitavas e meia que só queria soar como Yma Sumac.

Assim, com apenas dezanove anos, impressionou Jimmy Carl Black num concerto do grupo onde tocava com Lee Underwood e James Fielder, que ora se chamava Harlequins, ora Bohemians, dependendo se tocavam um repertório rock ou folk. O então baterista de Frank Zappa nos Mothers of Invention, acabaria por apresentar Buckley ao seu manager, Herb Cohen, que não só o contrataria, como seria responsável pela gravação de seis músicas suas durante uma série de concertos em Nova Iorque. O material em questão cativaria imediatamente o homem forte da Elektra, Jac Holzman, e as seis músicas tornar-se-iam na espinha dorsal do álbum homónimo do cantor norte-americano.

Buckley sempre esteve muito longe de encaixar no arquétipo de estrela de rock e os seus discos nunca venderam muito, mas as razões que levam o seu primeiro álbum a ser um dos mais obviados da sua discografia são outras. Em Tim Buckley, o resultado revela um lado predominantemente pueril do cantautor, ainda longe dos registos onde este experimentaria com todos os seus recursos, nãs só líricos mas também vocais. O próprio Buckley diria que aquela primeira experiência no estúdio tinha sido como ir à Disneylândia.

Tim Buckley enquadra-se perfeitamente na corrente folk-rock de meados dos anos sessenta, dando uma certa continuidade ao trabalho dos Harlequins e dos Bohemians, mas sobretudo reforçando a colaboração com o poeta e amigo Larry Beckett, com quem Buckley compôs a maior parte das canções. Naturalmente, do resultado final com arranjos de Jack Nitzsche e teclados de Van Dyke Parks, eleva-se o vozeirão de Tim Buckley que ocupa todo o espetro de composições tão diversas como Strange Street Affair Under Blue ou Song Slowly Song.

Tão somente num ano, a vida de Tim Buckley ficou marcada por grandes acontecimentos. Quase simultaneamente à publicação do seu primeiro álbum, nascera o seu filho Jeffrey Scott. Assim, Tim Buckley marca o ponto de partida de um legado e de uma lenda vocal que se começara a forjar em 1966 e só terminaria com a trágica morte de Jeff Buckley, em 1997.

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