07 Outubro 2021
The Passions
Os The Passions podem ocupar uma humilde nota de rodapé na história do pós-punk britânico, mas Thirty Thousand Feet Over China, o segundo álbum da banda, editado em 1981, parecia confirmar a carreira prometedora que muitos auguravam aos músicos londrinos. O interesse de John Peel pela banda desde o seu alvor (os The Passions gravaram três Peel Sessions entre 1979 e 1980), granjeou-lhes um contrato com a Fiction Records para o primeiro álbum – Michael & Miranda (1980) – e colocou-os em tour com a coqueluche da editora, os The Cure. A popularidade dos The Passions não cresceu como esperado, mas permitiu-lhes dar o salto para o catálogo da Polydor Records e lançar o LP que temos em mãos. I’m in Love With a German Film Star, o segundo single do álbum, ressoou alto nas rádios e nos tops britânicos e tornou-se mais ou menos intemporal pelas inúmeras versões feitas por outros artistas. Apesar do sucesso do single ter atingido Portugal (foi 1.º no Rock em Stock em maio de 1981), o álbum chegaria com um atraso assinalável a estas paragens, aparecendo apenas em 1982 – o que atestava um dos obstáculos a interferir com o crescimento da banda: a incapacidade de a editora acompanhar a elevada e súbita procura que tinha gerado.
Em Thirty Thousand Feet Over China a toada mais rock e ritmada, que sobressaía no registo de estreia Michael & Miranda, evapora-se no meio de um som atmosférico e de cadência quase narcótica, com a melodia da guitarra de Clive Timperley e a voz encantatória de Barbara Gogan a tomar a dianteira das músicas. As guitarras carregadas de reverbs, delays e arpeggios minimalistas são a marca que percorre o álbum e parecem esboçar alguns dos traços que viriam a compor os ambientes criados pela maestria de um guitarrista como Vini Reilly (Durutti Column) ou mesmo Johnny Marr (The Smiths), como acontece no riff mais acelerado e impetuoso de The Swimmer. Mas a envolvência onírica emanada de I’m in Love With a German Film Star raramente encontra igual elevação nas restantes faixas, aproximando-se levemente em alguns momentos de Someone Special, Strange Affair ou The Square, capazes de balançar entre a mesma sensação de inquietação e alegria desconfortável, ainda que de forma menos consistente. A escolha do terceiro single do álbum recairia sobre a inusitada Skin Deep, repetitiva e liricamente minimalista, assente no staccato da guitarra de Timperley, mas esteticamente a milhas da atmosfera que cativava a nova legião de fãs. Sem vislumbrar um sucesso aproximado ao seu grande êxito comercial e incapaz de superar os inúmeros percalços e divergências que perturbavam a banda (Clive Timperley sairia pouco depois da gravação deste álbum), os The Passions chegariam ao fim em 1983, não sem antes passarem por Portugal no mesmo ano. A qualidade e a identidade singular de Thirty Thousand Feet Over China deixam claro, contudo, que a banda britânica foi mais do que uma one-hit wonder.
Em Thirty Thousand Feet Over China a toada mais rock e ritmada, que sobressaía no registo de estreia Michael & Miranda, evapora-se no meio de um som atmosférico e de cadência quase narcótica, com a melodia da guitarra de Clive Timperley e a voz encantatória de Barbara Gogan a tomar a dianteira das músicas. As guitarras carregadas de reverbs, delays e arpeggios minimalistas são a marca que percorre o álbum e parecem esboçar alguns dos traços que viriam a compor os ambientes criados pela maestria de um guitarrista como Vini Reilly (Durutti Column) ou mesmo Johnny Marr (The Smiths), como acontece no riff mais acelerado e impetuoso de The Swimmer. Mas a envolvência onírica emanada de I’m in Love With a German Film Star raramente encontra igual elevação nas restantes faixas, aproximando-se levemente em alguns momentos de Someone Special, Strange Affair ou The Square, capazes de balançar entre a mesma sensação de inquietação e alegria desconfortável, ainda que de forma menos consistente. A escolha do terceiro single do álbum recairia sobre a inusitada Skin Deep, repetitiva e liricamente minimalista, assente no staccato da guitarra de Timperley, mas esteticamente a milhas da atmosfera que cativava a nova legião de fãs. Sem vislumbrar um sucesso aproximado ao seu grande êxito comercial e incapaz de superar os inúmeros percalços e divergências que perturbavam a banda (Clive Timperley sairia pouco depois da gravação deste álbum), os The Passions chegariam ao fim em 1983, não sem antes passarem por Portugal no mesmo ano. A qualidade e a identidade singular de Thirty Thousand Feet Over China deixam claro, contudo, que a banda britânica foi mais do que uma one-hit wonder.