Syreeta - Fonoteca Municipal do Porto

Fonoteca Municipal do PortoFMP

Syreeta

Sofia Rajado

Resenha

14 Novembro 2024

A música datada que simultaneamente se torna intemporal
Escutar Syreeta é ir ao encontro de um som datado, mas que não se esgota, cansa ou entedia. A sua música faz despertar uma leve nostalgia que nos transporta, num fechar de olhos, à vida dos anos 80. Depois de colaborações com nomes como Stevie Wonder ou Billy Preston, o álbum Syreeta foi lançado pela editora Tamla, uma subeditora da Motown Record, em 1980. Este foi o segundo álbum com o mesmo nome, pois já havia lançado o primeiro em 1972, e consagrou novamente Syreeta no mundo da música. Contudo, deveria ter tido muito mais destaque nacional e internacional do que aquele que na realidade teve.

Syreeta Wright foi uma cantora e compositora americana. Provavelmente, se não fossem os problemas monetários da sua família, ter-se-ia dedicado ao ballet. Mas, nessa impossibilidade, acabou por se dedicar à música, juntando-se a grupos de canto. Posteriormente, começou a trabalhar na editora Motown, o que a colocou em contacto com a indústria da meio música e com outros músicos.

O álbum Syreeta, de 1980, é um disco bastante sólido que reafirma, novamente, Syreeta enquanto cantora e compositora. A fluidez da sua voz, doce, suave e simultaneamente assertiva, leva-a a viajar pelo som, encaixando de forma perfeita, em doses de subtileza e afirmação. Ambos os lados A e B deste disco são um encadeamento, quase sempre de forma alternada, de faixas mais melódicas, predominantemente “soul”, com faixas mais ritmadas, com um carácter mais R&B. Nelas são facilmente identificados elementos destes géneros de música, com incidência nos anos 70 e 80, a par da pop, como a existência de “back vocals”, a presença de vários instrumentos, com evidência das cordas e dos teclados elétricos com amplificadores, as mudanças de tom a meio das músicas para permitir à cantora subir a sons agudos e demonstrar assim as suas capacidades técnicas. Tudo isto com arranjos muito sólidos e muito bem pensados e estruturados, com os papéis do baixo, da guitarra, dos teclados, da bateria, bem definidos. Sobre eles incide o canto de Syreeta, que fala essencialmente de amor, ladeado por vezes pelas cordas, também com efeito de “back vocals” e em constante diálogo entre a voz e os restantes instrumentos, numa espécie de elo de ligação. A beleza neste disco está na excelente capacidade de encontrar o equilíbrio entre as harmonias e os ritmos certeiros e conjugar isso com a intensidade vocal de Syreeta, sem que tudo junto soe a algo demasiado geométrico, sem qualquer expressividade ou capacidade de realce.

No lado A destaca-se “Blame It On the Sun”, escrita conjuntamente com Stevie Wonder para o seu disco Talking Book; “Please Stay”, que canta conjuntamente com Billy Preston, como no lado B em “One More Time For Love”, que foi escrita por Syreeta em conjunto com Preston. O lado B inicia-se com “Love Fire”, marcadamente R&B. Também a faixa “Dance For Me Children” foi escrita por Syreeta em conjunto com Curtis Robertson Jr. e Sheree Brown. Este disco envolve vários músicos e compositores, entre eles Bill Withers, em “Let Me Be The One”.

Com a quantidade de informação atual, talvez a voz de Syreeta se perca algures no tempo, mas as bases da sua música não, porque continuam vivas ainda hoje, mesmo que variadas, mexidas ou reinventadas.

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