20 Maio 2022
Há discos que marcam gerações, apanhando os adolescentes numa fase particularmente permeável à novidade e à emoção, e há outros que fazem o seu trabalho de conversão ainda mais cedo, conquistando os ouvidos de crianças que nunca mais esquecerão as canções que acompanhavam os seus desenhos animados favoritos. Terá sido este o caso de Sérgio Godinho Canta com os Amigos do Gaspar: lançado em 1988, como banda sonora da série que a RTP começara a transmitir dois anos antes, é um conjunto de 16 temas e breves interlúdios em que o escritor de canções canta com as personagens do programa, retratadas em alegre convívio na capa do álbum, da autoria de João Lucas, músico e também artista plástico.
Na altura, Sérgio Godinho vinha de trabalhar com Jorge Constante Pereira numa outra série infantil, A Árvore dos Patafúrdios (1985), da qual ambos foram argumentistas, assinando Constante Pereira a música e João Paulo Seara Cardoso, mais tarde fundador do Teatro de Marionetas do Porto, a autoria do conceito. Em Os Amigos de Gaspar, também imaginada por João Paulo Seara Cardoso, que entretanto estagiara com Jim Henson, d'Os Marretas, Sérgio Godinho já não participou no argumento, mas escreveu as letras de canções que se tornaram clássicos de quem foi criança nos anos 80. “Fiz só as letras, mas não foram letras desgarradas da música”, recorda. “Trabalhei com o Jorge Constante Pereira, em sua casa. Ele ia compondo e eu ia 'parindo' as letras. Foi um trabalho muito envolvido e envolvente.”
Assim nasceram o eufórico hino à amizade, É Tão Bom (gravado mais tarde no disco ao vivo Nove e Meia no Maria Matos, de 2008, e em 2019 no álbum infantojuvenil Canções de Roda), mas também o blues ecológico Na Cidade ou a carinhosa Canção dos Abraços, recuperada numa peça televisiva durante a pandemia, para ilustrar a falta que os afetos nos fizeram. Gravado nos Estúdios Rangel, no Porto, Sérgio Godinho Canta com os Amigos do Gaspar é ainda a casa da delicada Amores de Marta, que poderia ter conhecido uma vida fora da banda sonora, e de A Paixão do Velho Pires, O Marinheiro, que serviu de semente da pesada Pequenos Delírios Domésticos, que Sérgio Godinho editaria, em 1993, no álbum Tinta Permanente, e na qual a narradora fantasia com envenenar o marido. “É o que acontece muitas vezes com as canções: há pontos de partida, e depois há derivações que as transformam”, comenta o autor, sempre ciente das pontes entre os vários momentos da sua obra. Com Os Amigos do Gaspar, conseguiu não só lançar fundações para trabalhos que se seguiriam, como apresentar toda uma geração ao poder imenso das suas palavras. Uma força que nunca esquecemos.
Assim nasceram o eufórico hino à amizade, É Tão Bom (gravado mais tarde no disco ao vivo Nove e Meia no Maria Matos, de 2008, e em 2019 no álbum infantojuvenil Canções de Roda), mas também o blues ecológico Na Cidade ou a carinhosa Canção dos Abraços, recuperada numa peça televisiva durante a pandemia, para ilustrar a falta que os afetos nos fizeram. Gravado nos Estúdios Rangel, no Porto, Sérgio Godinho Canta com os Amigos do Gaspar é ainda a casa da delicada Amores de Marta, que poderia ter conhecido uma vida fora da banda sonora, e de A Paixão do Velho Pires, O Marinheiro, que serviu de semente da pesada Pequenos Delírios Domésticos, que Sérgio Godinho editaria, em 1993, no álbum Tinta Permanente, e na qual a narradora fantasia com envenenar o marido. “É o que acontece muitas vezes com as canções: há pontos de partida, e depois há derivações que as transformam”, comenta o autor, sempre ciente das pontes entre os vários momentos da sua obra. Com Os Amigos do Gaspar, conseguiu não só lançar fundações para trabalhos que se seguiriam, como apresentar toda uma geração ao poder imenso das suas palavras. Uma força que nunca esquecemos.