Rosa Ramalho e a música folclórica - Fonoteca Municipal do Porto

Fonoteca Municipal do PortoFMP

Rosa Ramalho e a música folclórica

Maria Restivo

Resenha

19 Setembro 2024

O que há em comum entre as figuras de barro da Rosa Ramalho e a música folclórica? Ambas podem ser enquadradas no âmbito dos movimentos de enaltecimento da cultura popular. Menosprezada durante séculos, a cultura popular – passível de ser genericamente definida como o conjunto de práticas e expressões culturais de um povo, em oposição a uma elite – encontrou em Portugal, em finais do século XIX, um contexto propício à sua valorização. A busca pela identidade nacional, a par dos ideais do movimento Romântico (anticlássico e anticientífico), contribuíram para o reconhecimento da importância dos saberes populares e tradicionais, que passaram a ser pesquisados, inventariados e colecionados. Na década de 1960, deteta-se um outro movimento de valorização das culturas populares. São vários os artistas e intelectuais (sobretudo com orientações políticas de esquerda) que percorrem o país em busca das expressões artísticas tradicionais ou vernaculares, onde se incluem a música, a arquitetura e o artesanato, procurando desafiar a imagem do “país de fantasia” construído pelo Estado Novo.

Neste contexto, Rosa Ramalho ocupa um lugar paradoxal. A sua obra é simultaneamente apropriada pela esquerda e pela direita, sendo que ambas reclamam, a partir dela, uma certa ideia de autenticidade do popular. É por isso particularmente significativo encontrar figuras de Rosa Ramalho a ilustrar capas de discos de música folclórica. Acresce ainda o curioso pormenor das mesmas figuras servirem as capas de dois discos distintos, o da Estúrdia da Portela e o da Linucha. Um olhar mais atento permitiu resolver o enigma: as capas foram ambas concebidas por Albino Rafael, pessoa de quem pouco sabemos exceto o facto de ser o provável proprietário destas belas peças de Rosa Ramalho.

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