Rancho Folclórico de Baião - Fonoteca Municipal do Porto

Fonoteca Municipal do PortoFMP

Rancho Folclórico de Baião

 Teresa Campos

Resenha

23 Setembro 2021

Este é o único disco de vinil gravado pelo Rancho Folclórico de Baião, nos inícios dos anos setenta. Depois dele, só cassetes, a última editada no ano passado. Na foto da capa, e da esquerda para a direita, vemos José Borges, co-fundador, vice-presidente, dançador e mandador, e Alice Borges, cantadeira; à sua direita parecem estar Augusto Pinto e Hermínia, filha do José Acácio; e na outra ponta Abílio da Costa, dançador, co-fundador e presidente durante trinta e dois anos. Abílio lembra-se que o EP foi gravado em bobine numa manhã, primeiro a tocata e depois as vozes, que o master ficou para a Ofir, e do silêncio que as gravações pediam."

Não é por acaso que é a Chula que abre este vinil. É das modas mais antigas de Baião e, quando se fala nela, fala-se na viola da chula, provavelmente prima da amarantina, e na rabeca chuleira ou amarantina - um violino com o braço mais pequenino e sem trastes que, como o nome indica, só era usada nas chulas, e só se construíram e tocaram em Baião e Amarante. Foi de Baião (Boscras) que veio Toninho Alves, o último tocador em contexto espontâneo, de quem ainda se fala. Hoje, já raramente se toca a chula inteira, e na maioria das vezes já só se toca a quarta parte, mas antigamente as chulas duravam duas horas, até todos os pares da sala terem rodado juntos. Já a cana-verde ou caninha-verde, como explica Abílio Costa, “não é de cá e provavelmente só era tocada em tocata, sem dança”, porque ninguém se lembra de ter sido alguma vez dançada. Em Gestaçô, uma das catorze freguesias de Baião, ainda se dança, e é muito recorrente no Douro e Beira Litoral e muito diferente da minhota.

O lado B abre com um malhão, dança que acompanhava o malhar do milho e o centeio, ou o caminho para as romarias, com uma coreografia diferente da que hoje se dança. Nos bailes, com um cavaquinho, uma viola, um bombo e um triângulo estava o malhão montado, e a referência do malhão “de cruz” é para quem o dança. Segundo José Borges, a contradança, também chamada quadrilha noutros lugares, é das músicas e danças mais conhecidas do rancho e de origem francesa. Era das que durava mais tempo, foi batizada de contradança mandada em S. João de Ovil, e logo ali abaixo do Rio Douro, em Pias, já se chamava outra coisa. Em 2019, o Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto desenvolveu um projeto de recolha e divulgação das contradanças e quadrilhas da região duriense. Nos seus documentos pode-se ler que “é essencial cartografar e inventariar danças, coreografias, mandos/marcações e melodias, para atenuar o risco de cristalização e progressivo desaparecimento em contextos informais”.

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