17 Dezembro 2021
Pilar Homem de Melo
Chuva de Estrelas foi o primeiro programa de talentos da televisão portuguesa. Durante a primeira edição, que decorreu entre 1993 e 1994, o júri deste programa era composto por três elementos, mas dois ganharam protagonismo como residentes: Ramón Galarza e Rita Guerra. Quem passou totalmente despercebida nas suas funções foi Pilar Homem de Melo, que ocupara a cadeira dos jurados, antes de ser substituída por Rita Guerra. Ainda assim, esta não foi a única vez que os atentos sentidos do público português não deram por Pilar.
Em 1989, a Valentim de Carvalho lançou o primeiro álbum de Pilar Homem de Melo intitulado Pilar. A própria cantora afirmaria anos mais tarde que com este título queria dar-se a conhecer pelo seu nome próprio, sugerindo com esta escolha uma tentativa de afirmação individual relativamente ao peso de um apelido tão fortemente associado ao seu tio-avô, Pedro Homem de Melo.
É sobre esta ideia de emancipação que se constrói o conceito de Pilar, o álbum: depois de estudar composição e canto na Berklee College of Music, Pilar Homem de Melo quis cantar a sua essência e iniciar uma carreira a solo, articulando aquilo que tinha aprendido com uma procura da sua própria linguagem. Para comandar tal empresa, a cantora convidou Wayne Shorter, conhecido por ter integrado o mítico quinteto modal de Miles Davis e que vinha das suas explorações com Joe Zawinul nos Weather Report. Quem melhor do que o saxofonista norte-americano nas lides de produtor para valorizar a voz única de Pilar e “dissolver o café do jazz em leite e açúcar”?
No álbum, a colaboração entre ambos atinge a sua cúspide com Lágrima, uma canção composta por Nuno Canavarro, que se posiciona algures entre Plux Quba e Mr. Wollogallu, os dois álbuns do compositor. Claro que grande parte da magia da canção advém da mestria com que Mário Laginha acompanha ao piano os versos de Miguel Esteves Cardoso na voz “pseudo-frágil” de Pilar.
Paradoxalmente, a canção que a Valentim de Carvalho escolheu para promover Pilar — Um amor assim — desenrola-se num registo muito diferente do resto do álbum e em nada é representativa da fusão entre o etéreo e humano que se materializa em canções como Princesa ou A Voz.
Sob uma chuva de estrelas fica difícil usar a música como veículo para despertar consciências. Pese a qualidade do conteúdo que o compõe, Pilar manteve-se injustamente longe dos ouvidos e da memória dos portugueses, demonstrando uma vez mais que num mundo onde é imperativo mostrar-se forte, pouco espaço há para as vozes interiores.
Em 1989, a Valentim de Carvalho lançou o primeiro álbum de Pilar Homem de Melo intitulado Pilar. A própria cantora afirmaria anos mais tarde que com este título queria dar-se a conhecer pelo seu nome próprio, sugerindo com esta escolha uma tentativa de afirmação individual relativamente ao peso de um apelido tão fortemente associado ao seu tio-avô, Pedro Homem de Melo.
É sobre esta ideia de emancipação que se constrói o conceito de Pilar, o álbum: depois de estudar composição e canto na Berklee College of Music, Pilar Homem de Melo quis cantar a sua essência e iniciar uma carreira a solo, articulando aquilo que tinha aprendido com uma procura da sua própria linguagem. Para comandar tal empresa, a cantora convidou Wayne Shorter, conhecido por ter integrado o mítico quinteto modal de Miles Davis e que vinha das suas explorações com Joe Zawinul nos Weather Report. Quem melhor do que o saxofonista norte-americano nas lides de produtor para valorizar a voz única de Pilar e “dissolver o café do jazz em leite e açúcar”?
No álbum, a colaboração entre ambos atinge a sua cúspide com Lágrima, uma canção composta por Nuno Canavarro, que se posiciona algures entre Plux Quba e Mr. Wollogallu, os dois álbuns do compositor. Claro que grande parte da magia da canção advém da mestria com que Mário Laginha acompanha ao piano os versos de Miguel Esteves Cardoso na voz “pseudo-frágil” de Pilar.
Paradoxalmente, a canção que a Valentim de Carvalho escolheu para promover Pilar — Um amor assim — desenrola-se num registo muito diferente do resto do álbum e em nada é representativa da fusão entre o etéreo e humano que se materializa em canções como Princesa ou A Voz.
Sob uma chuva de estrelas fica difícil usar a música como veículo para despertar consciências. Pese a qualidade do conteúdo que o compõe, Pilar manteve-se injustamente longe dos ouvidos e da memória dos portugueses, demonstrando uma vez mais que num mundo onde é imperativo mostrar-se forte, pouco espaço há para as vozes interiores.