Out of the Grey - Fonoteca Municipal do Porto

Fonoteca Municipal do PortoFMP

Out of the Grey

Armando Sousa

Resenha

20 Maio 2021

The Dream Syndicate
Os Peer Group foram uma banda punk californiana que, empurrada pela verborreia de Jimmy Otter, habitava San Pedro, em 1981. Ativa consumidora de discos dos sessenta, a baixista Lina Sedillo organizava sessões de escuta de álbuns com o seu amigo Michael, a quem naquela altura pediu para gravar um ensaio da sua banda. Michael Quercio, que tocava nos Salvation Army (depois Three O’Clock), era fascinado pela psicadélia, o fuzz e qualquer referência estética que evocasse os anos sessenta. Claro que naquele dia com os Peer Group, o vestido de caxemira de Lina não passaria despercebido. A partir do momento em que Michael usou pela primeira vez a expressão "Paisley Underground" ao falar do seu grupo, o termo seria usado invariavelmente para identificar o rock revivalista californiano, pese a rejeição dos grupos envolvidos.

Quando numa entrevista sobre um concerto-reunião dos grupos Paisley Underground perguntaram a Steve Wynn sobre a etiqueta, o fundador dos Dream Syndicate respondeu que não lhe incomodava e que, para ele, o seu grupo até era mais underground do que paisley: “Os concertos foram incríveis. As quatro bandas [Bangles, Rain Parade, Three O’Clock e Dream Syndicate] estão ativas e tocam boa música – sem dúvida melhor do que o faziam naquela época.”
 
A história do terceiro álbum dos Dream Syndicate começa precisamente com o fracasso de um disco… ao vivo. Descontente com os resultados comerciais de Medicine Show e de This Is Not the New Dream Syndicate Album...Live!, a A & M Records decidiu rescindir o contrato com os californianos, provocando-lhes uma curta crise existencial, apenas ultrapassada com o lançamento de Out of the Grey, em 1986. É natural, portanto, que o título escolhido fosse uma clara referência a uma ideia de renascimento, bem como de uma reformulação daquilo que tinham sido os anos dos dois primeiros álbuns. A partir daqui, com Paul B. Cutler como guitarrista, a banda construiu um disco com uma sonoridade mais direta, tanto em termos sónicos como de composição. Apesar da música que dá título ao álbum ter ainda reminiscências das vidas passadas dos Dream Syndicate, Boston, Now I Ride Alone ou Dancing Blind revelam uma aproximação mais realista à estética dos oitenta e um ligeiro afastamento de expressões estilísticas revivalistas, sem deixar de lado a influência do folk rock, do country e do blues.

Com Out of the Grey, os Dream Syndicate saíram da obscuridade, livres do jugo dos grandes senhores do capital musical. Quando muitos já se tinham esquecido deles e do Paisley Underground, Steve Wynn veio demonstrar que a música nunca deve estar ao serviço das etiquetas estilísticas, mas sim estas ao serviço da expressão musical.

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