18 Setembro 2025
João Gilberto
Em julho de 1959, quatro meses depois de lançar um LP que mudaria os rumos da música brasileira (Chega de saudade), o cantor João Gilberto, baiano de Juazeiro, 28 anos, voltou aos estúdios da Odeon, no centro do Rio de Janeiro, para uma sessão de gravações temática. Dali sairiam três fonogramas que jamais constariam em seus LPs “de carreira” depois de serem publicados, ainda naquele mês, num compacto-duplo que hoje é item de colecionador – João Gilberto Cantando as Músicas do Filme Orfeu do Carnaval.
Ao fim da sessão, de 2 de julho, João e seu violão, acompanhados por orquestra e coro sob direção musical de Antonio Carlos Jobim, o Tom, deixaram prontas três das quatro faixas do compacto: A felicidade e Manhã de carnaval, alocados na face A, e O nosso amor, na face B. Seis dias depois, coro e orquestra voltaram ao estúdio para registrar, sem João, a faixa restante, Frevo. À exceção de Manhã de carnaval, de Luiz Bonfá e Antônio Maria, as demais canções era assinadas por Tom e o poeta e diplomata Vinicius de Moraes, parceiros desde Orfeu da Conceição, o espetáculo com texto de Vinicius e música de Tom que alvoroçara o Rio em 1956.
Releitura do mito grego de Orfeu e Eurídice ambientada no morro carioca, o espetáculo virou filme dois anos depois, numa coprodução franco-ítalo-brasileira, com o título de Orfeu do Carnaval no Brasil e Orfeu Negro no exterior. Por questões de editoras musicais, as canções do espetáculo foram descartadas, e um score novo encomendado a Tom e Vinicius. Dessa fornada saíram A felicidade, O nosso amor e Frevo. O diretor Marcel Camus pediu mais um tema ao violonista Luiz Bonfá, que trouxe Manhã de carnaval.
Consta que João foi cogitado para dublar Orfeu nos números musicais, antes do convite chegar a Agostinho dos Santos, de voz mais encorpada. Mas a sua chance de registrar aquele repertório a seu modo veio em 1959, já na esteira do sucesso internacional do filme.
A edição lusa, Parlophone, selo subsidiário da Odeon, adotou uma capa reservadas a lançamentos carnavalescos, com uma ilustração canhestra do Rei Momo à frente de foliões em Copacabana. Na contracapa, ao lado de uma foto de João sentado sobre uma pedra em Ipanema, são listadas gravações do artista já então famosas na terra de Camões – Chega de saudade, Saudade fez um samba, Desafinado e Bim-bom. A Bossa Nova ganhava o mundo.
Numa doce tensão que remete à arte da capa original brasileira – com o solista “bossa nova” sobreposto a uma escola de samba reduzida, em efeito gráfico, a uma mancha cor-de-rosa –, o disco marca um encontro singular entre a batida e o canto renovadores de João e o samba carnavalesco tradicional, criando um diálogo fascinante entre o minimalismo bossa-novista e a efervescência do samba de morro.
Emociona ouvir João – preciso, amoroso e desafetado porta-voz de clássicos de Tom e Vinícius recém-saídos do forno – coadjuvado aqui por coros e batucadas incandescentes que evocam antigos carnavais. “Tudo pode” na música brasileira: até mesmo o encontro empático, sem preconceitos, entre duas maneiras tão distintas de pensar e fazer samba.
Ao fim da sessão, de 2 de julho, João e seu violão, acompanhados por orquestra e coro sob direção musical de Antonio Carlos Jobim, o Tom, deixaram prontas três das quatro faixas do compacto: A felicidade e Manhã de carnaval, alocados na face A, e O nosso amor, na face B. Seis dias depois, coro e orquestra voltaram ao estúdio para registrar, sem João, a faixa restante, Frevo. À exceção de Manhã de carnaval, de Luiz Bonfá e Antônio Maria, as demais canções era assinadas por Tom e o poeta e diplomata Vinicius de Moraes, parceiros desde Orfeu da Conceição, o espetáculo com texto de Vinicius e música de Tom que alvoroçara o Rio em 1956.
Releitura do mito grego de Orfeu e Eurídice ambientada no morro carioca, o espetáculo virou filme dois anos depois, numa coprodução franco-ítalo-brasileira, com o título de Orfeu do Carnaval no Brasil e Orfeu Negro no exterior. Por questões de editoras musicais, as canções do espetáculo foram descartadas, e um score novo encomendado a Tom e Vinicius. Dessa fornada saíram A felicidade, O nosso amor e Frevo. O diretor Marcel Camus pediu mais um tema ao violonista Luiz Bonfá, que trouxe Manhã de carnaval.
Consta que João foi cogitado para dublar Orfeu nos números musicais, antes do convite chegar a Agostinho dos Santos, de voz mais encorpada. Mas a sua chance de registrar aquele repertório a seu modo veio em 1959, já na esteira do sucesso internacional do filme.
A edição lusa, Parlophone, selo subsidiário da Odeon, adotou uma capa reservadas a lançamentos carnavalescos, com uma ilustração canhestra do Rei Momo à frente de foliões em Copacabana. Na contracapa, ao lado de uma foto de João sentado sobre uma pedra em Ipanema, são listadas gravações do artista já então famosas na terra de Camões – Chega de saudade, Saudade fez um samba, Desafinado e Bim-bom. A Bossa Nova ganhava o mundo.
Numa doce tensão que remete à arte da capa original brasileira – com o solista “bossa nova” sobreposto a uma escola de samba reduzida, em efeito gráfico, a uma mancha cor-de-rosa –, o disco marca um encontro singular entre a batida e o canto renovadores de João e o samba carnavalesco tradicional, criando um diálogo fascinante entre o minimalismo bossa-novista e a efervescência do samba de morro.
Emociona ouvir João – preciso, amoroso e desafetado porta-voz de clássicos de Tom e Vinícius recém-saídos do forno – coadjuvado aqui por coros e batucadas incandescentes que evocam antigos carnavais. “Tudo pode” na música brasileira: até mesmo o encontro empático, sem preconceitos, entre duas maneiras tão distintas de pensar e fazer samba.