Mestizo - Fonoteca Municipal do Porto

Fonoteca Municipal do PortoFMP

Mestizo

Armando Sousa

Resenha

28 Julho 2021

Antes de ser descoberto pela famosa discográfica Fania, Bataan Nitollano já era conhecido em East Harlem, e não propriamente pelas melhores razões. O jovem de ascendência filipina e afro-americana, mais tarde conhecido como Joe, liderava os Dragons, um gang puertorriqueño da zona. Depois de ter cumprido pena pelo roubo de um carro, Bataan encontrou na música o seu refúgio, assinando contrato com a discográfica de Johnny Pacheco um ano depois de sair da prisão, em 1966. Insatisfeito com a remuneração e a pouca importância dada à sua fusão de expressões, Bataan acabaria por abandonar a Fania no início dos anos setenta e, dessa rutura, surgiria o conceito salsoul, adotado do jargão urbano latino, primeiro como título de álbum e depois como nome da discográfica fundada em 1974, com os irmãos Cayre. Aqui, na Salsoul Records, Joe Bataan gravaria três álbuns antes de se retirar do mundo da música: Afrofilipino, Mestizo e Bataan II.
Dos três, Mestizo, publicado em 1980, é o que melhor encarna o fenómeno musical latino que se vivia em Nova Iorque no final da década de setenta. Salsa e disco fundem-se numa realidade identitária orgulhosamente descrita nos primeiros versos de Mestizo Suite:

Mestizos throughout the earth
Stand tall about your birth
Join hands across the sea
Build a bridge for you and me


No entanto, e apesar da forte mensagem, esta declaração inaugural pouco protagonismo roubou ao single Rap-O Clap-O, que tinha sido lançado em 1979 e que se transformaria num dos primeiros referentes de hip hop. As duas músicas, seguidas de uma brilhante contribuição (que tardaria em ser creditada) de Jocelyn Brown em Sadie (She Smokes), podem aliás ser ouvidas em contínuo, tornando-se difícil encontrar um ponto tão alto no resto do LP, apesar da envolvente I See Your Hiney.

Durante a década de sessenta do século passado, duas vozes emergiram no panorama latino de Nova Iorque: Ralfi Pagán e Joe Bataan. Apesar de partilharem catálogo na Fania e uma sonoridade muito semelhante, resultado de um explosivo cocktail de ritmos latinos e música soul, os dois cantores nuyoracán tinham biografias muito distintas, que se refletiam não só na sua música, mas também nas suas atitudes longe dos microfones. Entre as saídas de ambos da Fania e a edição de Mestizo, Pagán foi assassinado em circunstâncias até hoje desconhecidas, durante uma tour pela Colômbia na qual substituía Bataan. Mestizo é-lhe dedicado.

voltar

Porto.