18 Janeiro 2024
Víctor Jara
Como num rápido sopro de vento, o tempo voa sem hesitar. 2023 marcou os 50 anos da morte de Víctor Jara, o cantor chileno fuzilado pela ditadura de Pinochet. Constatá-lo relembra-nos que, na história, cinco décadas, ainda que possam parecer um período longo à observação humana, é pouco tempo. E que os motivos que fizeram Jara cantar continuam ainda presentes.
Víctor Jara alcançou visibilidade no Chile através do teatro, como diretor e encenador, tendo ganho o Laurel de Oro e o prémio da Crítica do Círculo de Jornalistas em 1965. Também foi professor. Contudo, foi através da música que o seu nome chegou mais longe, sendo uma referência a nível internacional. Associou-se ao movimento artístico surgido nos anos 60 do século XX, denominado Nueva Canción Latinoamericana, com grande expressão na Argentina, Cuba e Chile. A ideia era recuperar a essência da música folclórica de cada país, incorporando às novas canções os ritmos e as harmonias de toda a região, acrescentando elementos de música clássica ou outras ideias, à época, inovadoras. Como a poesia cantada era um retrato social do país, esta canção ficou conhecida como de protesto. No Chile, algumas das vozes que inspiraram o movimento foram Violeta Parra ou Margot Loyola. A Nueva Canción Chilena foi um movimento musical e também político, estando ligado à Unidade Popular e ao apoio a Salvador Allende, e tinha também por objetivo recuperar a música folclórica por oposição ao imperialismo cultural e hegemónico dos EUA.
A história de Víctor Jara está diretamente ligada aos acontecimentos históricos do seu país. Nasceu em 1932, os pais eram de origem camponesa e foi com a mãe que despertou o seu interesse pela cultura e pela música. Trabalhou desde muito jovem e frequentou o seminário, onde teve contacto com o canto gregoriano que também o terá influenciado. Pelo importante papel desempenhado em apoio a Salvador Allende, pela força das suas canções, foi preso no dia seguinte ao golpe de Estado de Pinochet e mantido sob tortura no Estádio Chile, junto com milhares de pessoas, sendo fuzilado ao quarto dia de cárcere, a 16 de setembro de 1973. Segundo testemunhos, os ossos das suas mãos foram partidos para que não voltasse a tocar guitarra.
Gravou alguns álbuns em estúdio, outros ao vivo. Mas o seu legado foi tão surpreendente que houve várias reedições póstumas da sua música. Um disco de especial destaque, é a primeira edição póstuma, de 1974, pela editora XTRA — Transatlantic Records, que se intitula Manifiesto e reúne canções emblemáticas como Te Recuerdo Amanda, Canto Libre, Cuando Voy Al Trabajo, El Derecho de Vivir En Paz, Manifiesto ou Aquí me quedo, cuja letra é do escritor Pablo Neruda. Estas canções falam de amor em tempos de miséria, sofrimento, trabalho duro, pobreza, mas também de liberdade, de igualdade, de ternura, do sonho de uma vida vivida em paz — são o verdadeiro retrato social daqueles tempos. Através da escuta ativa da música deste disco — da melodia, ritmo, harmonia, da instrumentação — é possível identificar-se a presença da Nueva Canción, sublinhando El Derecho de Vivir en Paz, onde se encontra a versatilidade deste artista que, sobre o ritmo composto ternário, de influência latino-americana, insere elementos de rock e de improvisação do jazz. Contudo, o que distingue esta edição de Manifiesto de todas as outras e o torna único é a inclusão, no início de várias das suas faixas, sendo algumas delas as referidas acima, da tradução da respetiva letra para a língua inglesa, na forma de poesia recitada pela voz de Joan Jara, muito impactante dado o conteúdo forte da sua mensagem; e também a gravação de Chile Stadium, o poema lido por Adrian Mitchell e escrito por Víctor Jara nos dias de prisão e tortura antes de morrer. É impossível a sua escuta deixar-nos indiferentes, pois é o testemunho da barbárie e do obscurantismo sem qualquer humanidade.
Portugal também teve uma edição própria de Manifiesto, intitulada Víctor Jara, Presente, lançada em 1975 pela editora Movieplay portuguesa. Nesta edição, iniciada com Manifiesto, encontram-se algumas das músicas da edição da XTRA, mas também são englobadas outras, talvez menos conhecidas, como Caicaivilu, Lamento Boricano, Pimiento, Poema 15, Venían de desierto, Doncella encantada e El arado. De sublinhar que em Caicaivilu ou Lamento Boticano encontram-se alguns dos ritmos sul-americanos mais característicos.
Víctor Jara viveu pela liberdade, em todos os sentidos, e tornou-se um símbolo, um herói internacional, um grande artista, que perdura 50 anos depois.
Víctor Jara alcançou visibilidade no Chile através do teatro, como diretor e encenador, tendo ganho o Laurel de Oro e o prémio da Crítica do Círculo de Jornalistas em 1965. Também foi professor. Contudo, foi através da música que o seu nome chegou mais longe, sendo uma referência a nível internacional. Associou-se ao movimento artístico surgido nos anos 60 do século XX, denominado Nueva Canción Latinoamericana, com grande expressão na Argentina, Cuba e Chile. A ideia era recuperar a essência da música folclórica de cada país, incorporando às novas canções os ritmos e as harmonias de toda a região, acrescentando elementos de música clássica ou outras ideias, à época, inovadoras. Como a poesia cantada era um retrato social do país, esta canção ficou conhecida como de protesto. No Chile, algumas das vozes que inspiraram o movimento foram Violeta Parra ou Margot Loyola. A Nueva Canción Chilena foi um movimento musical e também político, estando ligado à Unidade Popular e ao apoio a Salvador Allende, e tinha também por objetivo recuperar a música folclórica por oposição ao imperialismo cultural e hegemónico dos EUA.
A história de Víctor Jara está diretamente ligada aos acontecimentos históricos do seu país. Nasceu em 1932, os pais eram de origem camponesa e foi com a mãe que despertou o seu interesse pela cultura e pela música. Trabalhou desde muito jovem e frequentou o seminário, onde teve contacto com o canto gregoriano que também o terá influenciado. Pelo importante papel desempenhado em apoio a Salvador Allende, pela força das suas canções, foi preso no dia seguinte ao golpe de Estado de Pinochet e mantido sob tortura no Estádio Chile, junto com milhares de pessoas, sendo fuzilado ao quarto dia de cárcere, a 16 de setembro de 1973. Segundo testemunhos, os ossos das suas mãos foram partidos para que não voltasse a tocar guitarra.
Gravou alguns álbuns em estúdio, outros ao vivo. Mas o seu legado foi tão surpreendente que houve várias reedições póstumas da sua música. Um disco de especial destaque, é a primeira edição póstuma, de 1974, pela editora XTRA — Transatlantic Records, que se intitula Manifiesto e reúne canções emblemáticas como Te Recuerdo Amanda, Canto Libre, Cuando Voy Al Trabajo, El Derecho de Vivir En Paz, Manifiesto ou Aquí me quedo, cuja letra é do escritor Pablo Neruda. Estas canções falam de amor em tempos de miséria, sofrimento, trabalho duro, pobreza, mas também de liberdade, de igualdade, de ternura, do sonho de uma vida vivida em paz — são o verdadeiro retrato social daqueles tempos. Através da escuta ativa da música deste disco — da melodia, ritmo, harmonia, da instrumentação — é possível identificar-se a presença da Nueva Canción, sublinhando El Derecho de Vivir en Paz, onde se encontra a versatilidade deste artista que, sobre o ritmo composto ternário, de influência latino-americana, insere elementos de rock e de improvisação do jazz. Contudo, o que distingue esta edição de Manifiesto de todas as outras e o torna único é a inclusão, no início de várias das suas faixas, sendo algumas delas as referidas acima, da tradução da respetiva letra para a língua inglesa, na forma de poesia recitada pela voz de Joan Jara, muito impactante dado o conteúdo forte da sua mensagem; e também a gravação de Chile Stadium, o poema lido por Adrian Mitchell e escrito por Víctor Jara nos dias de prisão e tortura antes de morrer. É impossível a sua escuta deixar-nos indiferentes, pois é o testemunho da barbárie e do obscurantismo sem qualquer humanidade.
Portugal também teve uma edição própria de Manifiesto, intitulada Víctor Jara, Presente, lançada em 1975 pela editora Movieplay portuguesa. Nesta edição, iniciada com Manifiesto, encontram-se algumas das músicas da edição da XTRA, mas também são englobadas outras, talvez menos conhecidas, como Caicaivilu, Lamento Boricano, Pimiento, Poema 15, Venían de desierto, Doncella encantada e El arado. De sublinhar que em Caicaivilu ou Lamento Boticano encontram-se alguns dos ritmos sul-americanos mais característicos.
Víctor Jara viveu pela liberdade, em todos os sentidos, e tornou-se um símbolo, um herói internacional, um grande artista, que perdura 50 anos depois.