27 Julho 2023
Adriano Correia de Oliveira
Na contracapa de Noite de Coimbra, o primeiro lançamento de Adriano Correia de Oliveira, podemos ler: O que nos diz o fado de Coimbra não está apenas no romantismo dos seus temas. Ele traz também uma esperança (...) Esta percorre as letras do LP (Fado do Fim do Ano, Balada da Esperança...) e parece essencial para a militarização que se seguiu na vida artística e política do cantautor. Afinal, não há luta sem esperança.
Fados de Coimbra (1963) é a compilação que reúne a produção de Adriano Correia de Oliveira enquanto estudante de Coimbra, mais concretamente os EPs Noite de Coimbra, Balada do Estudante e Fados de Coimbra, editados entre 1961 e 1963. Foi concebido com artistas que se tornariam habitués da Discos Orfeu: António Portugal e Eduardo Melo nas guitarras portuguesas, Durval Moreirinhas e Jorge Moutinho nas violas, Eduardo Melo e António Menano como letristas.
Um produto da cidade no início da década de 60, Fados de Coimbra acompanha a aproximação de Adriano a José Afonso, José Niza, António Bernardino, entre outros. Aqui, ouvimos as raízes desta histórica rede de músicos e ativistas contra o regime e das suas primeiras expressões políticas, como as greves académicas de 1962. O percurso que culmina com Trova do Vento que Passa, EP editado em 1963 com a canção homónima e provavelmente o hino do portuense, parte do seu deslumbramento com a vida universitária e de como esta o toldou.
Enquanto aluno da Universidade de Coimbra, Adriano participou no Grupo Universitário de Danças Regionais, no Círculo de Iniciação Teatral e no Conjunto Ligeiro da Tuna Académica. Não se poderia transcrever melhor a sensação de liberdade que experimentou como com a letra de Balada do Estudante, antepenúltima canção do registo: Eu sou livre como as aves; E passo a vida a cantar; Coração que nasceu livre; Não se pode acorrentar.
A inocência é o atributo maior de Fados de Coimbra, patente na melancolia leve e otimista das letras (em Balada dos Sinos: O sino toca na aldeia; Reza a gente com fervor; O sino toca na gente; Na aldeia nasce amor), nos acompanhamentos tímidos das guitarras e no registo jovem de Adriano, quase virginal, ainda a descobrir a sua expressividade vocal. A pureza deste carácter é intensa no LP, e faz-nos sentir a saudade, tristeza e esperança que o cantautor vivenciou.
Amor de estudante como terreno fértil para uma vida apaixonada. Os primeiros passos do Adriano Correia de Oliveira cantor estão todos em Fados de Coimbra.